Opinião: Recuos após gafes de Lula evidenciam que existe falsa equivalência ao compará-las com Bolsonaro

Por Fernando Duarte

Foto: Ricardo Stuckert/ Divulgação

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem cometendo uma série de gafes públicas. Infelizmente, parece um padrão que acomete aqueles que chegam ao Palácio do Planalto nos últimos mandatos - incluindo o pomposo Michel Temer e suas mesóclises. Quando se é chefe de Estado, pensar antes de falar não é apenas importante. É imprescindível. Mas parece que essas aulas não fizeram parte do ABC pós-urnas.
É preciso criticar e recriminar essa verborragia de Lula, tanto quanto foi feito com Jair Bolsonaro e a metralhadora verbal. Porém também é necessário ressaltar que, diferente do antecessor, o petista não insiste em falas que causam constrangimento ao Estado brasileiro ou a populações minoritárias. Aí jaz uma diferença enorme entre Lula e Bolsonaro, que não cabe a falsa simetria que parte da imprensa e dos próprios eleitores não consegue identificar.
Essa possibilidade de adaptação é o que ser o diferencial em um país que segue dividido. A CPMI do 8 de Janeiro é um exemplo desse processo de adaptação. Até a divulgação das imagens do general Gonçalves Dias no Planalto naquele fatídico dia, o governador lutava contra a comissão. Quando veio a público, o discurso mudou e agora há o esforço para não deixar que o debate seja sequestrado pelos bolsonaristas, que pretendem usar a CPMI como bóia de salvação para sobreviver politicamente no Congresso. Qual a estratégia vai vencer depende da condução do processo.
O governo ainda pena para formar uma maioria confortável, especialmente na Câmara. Cedeu muito para Arthur Lira e agora espera que o maior projeto apresentado até aqui, o arcabouço fiscal, não seja retalhado nas duas casas. Com uma base relativamente frágil, o rolo compressor tão comum na relação entre Executivo e Legislativo não deve acontecer. Por isso, essa possibilidade de mudança e adaptação do governo é tão relevante para a continuidade do próprio governo. Lula sabe disso e tem dado demonstrações de que não será estanque e errático como o antecessor.
Insistir em colocar Lula e Bolsonaro numa mesma "caixinha" do ponto de vista discursivo, é insistir na falsa equivalência que cria e mantém o ambiente de polarização que a sociedade brasileira vive, pelo menos, desde 2013. Discordemos e critiquemos as besteiras faladas pelo petistas, mas admitamos também que ele não hesita em realinhar as declarações, seja na política internacional ou nas falas sobre minorias. Diante do que vimos no passado recente, já é algo relevante para o ambiente democrático.
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