Por Bianca Andrade

Foto: Divulgação
O TOPO É MEU! (e realmente é, afinal o Bahia Notícias se manteve líder em visualizações entre veículos baianos na internet no último mês). Mas a frase diz muito mais para a Geração Millennial do que apenas uma declaração de posse.
Quem nunca quis ficar com o topo da seção de depoimentos no perfil do amigo, com a melhor, mas nem sempre, maior declaração de todas? Ou quem nunca enviou um depoimento para contar aquela fofoca com o [NÃO ACEITAR]?
Os haters de acordar cedo também tinham um espaço especial na comunidade "Eu Odeio Acordar Cedo" com uma foto do Garfield quebrando o relógio, assim como o público que odiava maçã farinhenta, e foi dessa forma que eu descobri que essa raiva não era só minha e que existia um nome para a maçã que fazia "fronk" e não "crec" quando a gente mordia.

O apego com o Orkut não é algo incomum para os brasileiros, e a possibilidade de retorno da plataforma anima quem fazia parte da grande comunidade.
No Brasil, cerca de 30 milhões de pessoas utilizavam a rede social. De acordo com a própria plataforma, cerca de 90% dos usuários da rede estavam no país, tornando o Brasil a maior comunidade do Orkut no mundo. Isso tornou, também, a plataforma essencial para o digital no Brasil. Afinal, em qual outro lugar a gente poderia saber se uma pessoa era confiável apenas pelos números de carinhas felizes no perfil? O mesmo valia para o "legal" e "sexy".

O Orkut fez com que fosse possível que pessoas com 13 anos de idade tivessem suas próprias fazendas… Donos de terras? Não. Jogadores do Colheita Feliz! E transformou o famoso e saudoso Tamagotchi em Buddy Poke, que rendeu tretas com os flertes, ou no melhor baianês, "frete", e criou casais.
Sim, antes mesmo do ‘Vai dar Namoro’ com Márcio Garcia — estamos falando de relíquias aqui — Orkut Büyükkökten, o engenheiro criador da rede social, foi o cupido de muitos casais e responsável por muitas amizades, tudo isso sem precisar sair de casa. Ou às vezes saindo até a lan house mais próxima de você.

Além de reunir odiadores de acordar cedo e da segunda-feira, o Orkut conseguiu mobilizar grupos importantes e reunir pessoas com gostos similares. A comunidade ia além da zoeira. Acredite, muitas torcidas organizadas se fortaleceram através da plataforma, assim como fã-clubes.
A plataforma também forçou seu público a aprender um pouquinho que fosse de HTML, já que para personalizar o perfil era necessário saber das "manhas" para deixar o texto colorido, em itálico, negrito e por aí vai. Ok, dava para usar emoticons — "emoji" é atual — mas não existia nada mais charmoso que escrever (L) para um coração ao invés de colocar um <3. Amar parecia um segredo que apenas os mais entendidos da internet conseguiam desvendar.

Foto: Google/ Montagem Bahia Notícias
Dez anos de existência foram suficientes para a rede social deixar uma marca nos brasileiros e se tornar parte da nostalgia tecnológica. Quem migrou para o Facebook, de Mark Zuckerberg, após o fim do Orkut, esperneou durante o processo, mas foi para lá, afinal, já existia uma dependência de rede social no público.
Com a possibilidade de retorno da plataforma, o questionamento que fica é: será que não estamos tentando tornar "cool" o vintage? O que também assusta, porque se o Orkut é considerado "vintage", o que dizer do mIRC, do ICQ e do Fotolog? É, o tempo está passando…

É fato que a nostalgia tem sido motivo de resgate de diversos objetos, estilos e músicas e o mercado tem adorado vender o que antes custava barato por um valor altíssimo, só para alimentar a necessidade de quem quer viver o passado.

Foto: enjoei
A moda agora é tirar foto através da CyberShot e passar o registro por um cabo para o computador e depois postar nas redes. As câmeras, que eram encontradas por R$ 150, chegaram a ser vendidas em sites de repasse por R$ 900. Mesmo podendo investir em um equipamento que daria uma entrega melhor, as "câmeras antigas" se tornaram desejo de uma geração.

Outra moda, e essa eu confesso que aderi, é a coleção de vinil e CD. Sim, tenho a minha vitrola e mais de 30 vinis. Na época em que era moda, eu era pequena demais para lembrar. Mas é uma moda curiosa, porque, com a evolução da tecnologia, é possível ouvir a música em um serviço de streaming ou no YouTube, por exemplo, com apenas um toque.
Até a comida entrou nessa onda de resgatar o passado, e você percebe como tudo gira em torno do capitalismo. A Nestlé lançou uma nova versão do 'Passatempo' sabor Infância, que resgata a receita dos anos 90. SPOILER: é sabor chocolate e não chocolate mesmo.

Foto: X
Nessa moda, será que vão querer trocar o 5G por internet discada? Acredito que ninguém tenha saudade de ouvir o som daquela conexão.
Mas uma coisa é elogiada entre todos esses tópicos: a qualidade do que era vendido. A boa entrega. O som interessante, a possibilidade de ter fotos na palma da mão através da revelação e não ser refém da nuvem para guardar. Os sabores mais apurados e o tempo para aproveitar tudo com mais calma, se é que faz sentido.

O fato é: o “velho” é bom e tem muita gente querendo viver o passado como nos dias de hoje.
Mas e o Orkut? Ah, o Orkut.
Será que a população vai aderir ao retorno da rede social, ou já estamos em um novo momento tecnológico em que o propósito da rede social se tornaria atrasado para as necessidades da população?
A plataforma voltaria exatamente como era nos anos 2000, ou precisaria se adaptar muito ao que é ofertado atualmente? E mudando, ela não perderia a estética de antes e deixaria, consequentemente, de agradar aquela geração que curtiu a versão ORIGINAL®?

São questionamentos importantes, mas que dão um nó quase capaz de cortar o fio que liga a internet no mundo. E sim, essa foi uma referência à nova geração.
De qualquer forma, se o Orkut voltar, eu já me sinto pronta para participar da comunidade do ódio à maçã farinhenta e das músicas que eu cantava errado. Infelizmente, ou felizmente, eu amo acordar cedo.