Trégua na inflação de alimentos abriu janela para reonerar combustível

Por Fernando Canzian | Folhapress

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

A reoneração do PIS/Cofins sobre gasolina e etanol deverá ter impacto entre 0,5 e 0,7 ponto percentual na inflação de março, segundo estimativas da FGV-Ibre e da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), da USP.
Segundo especialistas em preços, este é um bom momento para o governo tomar a medida -imprescindível para o equilíbrio fiscal-, pois há trégua importante na evolução da inflação de alimentos, sobretudo dos industrializados.
Sem a reoneração, a inflação prevista pela FGV-Ibre para março estava em 0,3%. Com a volta dos tributos (que serão diferenciados para a gasolina e o etanol), ela subiria para pouco menos de 1% -bem abaixo dos 1,6% de março de 2022.
Combustível é o subitem com maior relevância entre os 377 que compõem o índice oficial de inflação, o IPCA. Nesse grupo, a gasolina é, de longe, o de maior peso (os demais são etanol, diesel e gás veicular).
Segundo a Fipe, o mês de fevereiro fechará com desaceleração importante nos preços dos alimentos, que respondem por cerca de um quarto da inflação.
Alimentos industrializados, que têm o maior peso no grupo (9,4% no total de 24,5%), subiram apenas 0,11% até a terceira quadrissemana de fevereiro, puxando para baixo a inflação da comida.
Entre maio de 2021 e meados do ano passado, os industrializados subiram na faixa de 1% e 2% mensalmente. Depois, passaram a desacelerar -agora, mais rapidamente.
Guilherme Moreira, coordenador do IPC da Fipe, afirma ser importante a desaceleração dos alimentos industrializados, pois eles refletem pressões altistas menores em vários segmentos da cadeia produtiva, como embalagens, energia e transporte, entre outros.
Esse alívio na inflação já foi acusado em outros dois outros índices da FGV, que captam melhor as pressões sobre a produção e o atacado. Em fevereiro, o IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado) teve deflação de 0,06% e o IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo), de 0,20%.
"É bom ter lembrar que os mais pobres não estão nem aí para os preços da gasolina nas bombas. E não se pode resolver o problema fiscal do país arrecadando menos", diz André Braz, coordenador do IPC da FGV-Ibre.
"Adiar a entrada desses tributos no caixa só pioraria as expectativas fiscais; e isso deságua no preço do dólar, que, pressionado, acaba levando a uma série de pressões sobre a inflação."
Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, não há no horizonte grande pressão sobre os preços de alimentos em função da boa safra que chega ao mercado e de uma queda internacional nos valores.
"O problema em 2023 serão os preços administrados [como combustível e energia elétrica]", afirma Vale, que prevê alta no grupo de até 9% neste ano.
Ele lembra que, no pacote apresentado no início do ano pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) para diminuir o déficit fiscal de cerca de R$ 200 bilhões em 2023, a reoneração dos combustíveis era a única medida com impacto positivo previsível (de cerca de R$ 29 bilhões).
"O problema fiscal é a grande questão de fundo na deterioração das expectativas de inflação, câmbio e juros. Se o governo apresentar uma regra crível de âncora fiscal [o anúncio está previsto para março], pode haver uma mudança importante nas expectativas", diz Vale.
Até o final do ano passado, as expectativas sobre inflação, cotação do dólar (que impacta preços de importados) e da taxa básica do Banco Central (Selic) eram de queda ao longo de 2023.
Mas elas se deterioram com a aprovação da PEC (proposta de emenda à Constituição) que autorizou gasto extra de cerca de R$ 175 bilhões neste ano, e com as críticas do presidente Lula ao Banco Central e seu presidente, à meta de inflação, à autonomia da autarquia e aos juros elevados.
Sobre o último ponto, o choque de juros já surte efeito na economia, cuja desaceleração tende a puxar para baixo a inflação. No quarto trimestre de 2022 houve forte queda na atividade, segundo o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central).
Até setembro, o índice crescia a taxas elevadas, acima de 1,5%. A partir daquele mês, os numeros despencaram e viraram uma queda de 1,5% no quarto trimestre em relaçao ao terceiro trimestre de 2022.
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