Desmate na Amazônia cai 11%, mas permanece acima de 10 mil quilometros quadrados

Por Ana Carolina Amaral, Phillippe Watanabe e Lucas Lacerda | Folhapress

Foto: Reprodução / OPVerde Brasil

Pelo quarto ano consecutivo, o desmatamento na Amazônia, em um ano, ultrapassou os 10 mil km². Os dados do programa Prodes, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), divulgados nesta quarta-feira (30), mostram que foram ao chão 11.568 km² de floresta, de agosto de 2021 a julho de 2022. O valor, porém, é cerca de 11% inferior à taxa do ano anterior e interromper uma sequência de crescimento que vinha desde 2018.
De toda forma, os números permanecem elevados, especialmente ao se considerar os alertas de que a Amazônia não está distante de um ponto de não retorno, no qual, devido ao desmatamento, a floresta poderá passar por uma savanização, com a perda de sua biodiversidade e serviços ecossistêmicos.
A situação é ainda mais crítica ao se considerar o avanço da crise climática, que deixa cada vez mais explícitos os eventos extremos que deverão ser experienciados ainda mais frequentemente pela população mundial.
Conter o desmatamento, especialmente na Amazônia, é central para o papel do Brasil frente a crise climática, considerando que a derrubada de floresta é a principal fonte de emissões de gases-estufa do país.
Além disso, o desmate explosivo ocorrido sob o governo de Jair Bolsonaro (PL), vem trazendo problemas para a imagem brasileira internacional, o que, consequentemente, leva a maiores dificuldades comerciais e perdas de parcerias -o exemplo máximo foi a paralisação do bilionário Fundo Amazônia.
Desde antes do início de sua gestão, Bolsonaro colocou em dúvida dados de desmatamento e de queimadas produzidos pelo Inpe, um orgão do governo. Também criticou publicamente ações de combate ao desmatamento.
Os dados do Prodes mostram que, novamente, os estados que mais desmataram foram Pará, Amazonas, Mato Grosso e Rondônia, que respondem por quase 88% do desmate documentado.2021
O Amazonas, dessa forma, pelo segundo ano consecutivo, ocupa a segunda posição no ranking de devastação, que até 2020 era ocupado por Mato Grosso. O avanço do desmate no estado é fator de atenção e preocupação, considerando as ainda amplas áreas bem conservadas da região.
Inclusive, o Amazonas foi o único, de agosto de 2021 a julho de 2022, a registrar aumento de desmate em relação ao Prodes anterior. O crescimento foi de cerca de 13%. Pará e Mato Grosso, os outros estados que completam o top 3 de desmate tiveram reduções de, respectivamente quase 21% e cerca de 14%.
Apesar da divulgação somente nesta quarta, segundo apuração da Folha, o MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações) já havia recebido os dados antes da COP27, a conferência do clima da ONU, que terminou no dia 20 de novembro. No evento, a reportagem chegou a questionar o ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite sobre os dados do Prodes. A resposta foi: "não faço ideia".
A nota técnica publicada pelo Inpe, nesta quarta, tem a data de 3 de novembro registrada, ou seja, ainda antes do início da COP27.
Durante a COP27, o estande oficial do Brasil se manteve distante da Amazônia e buscou difundir a ideia de que o Brasil é um país de energia verde -o que é verdade, em linhas gerais, apesar de a matriz energética ter sido um pouco mais suja após fôlego dado à termelétricas a carvão.
Em meio à crise climática e aos seus efeitos devastadores, Leite usou seu discurso na conferência climática para falar que não acredita em uma "redução de emissões extremamente forçada, via taxas e custos a vários setores econômicos, com risco de geração de inflação verde e aumento da pobreza". O ministro também se ausentou das negociações.
Não é a primeira vez que o governo de Jair Bolsonaro evita divulgar os dados de desmatamento em uma COP do clima -tradição que vinha sendo mantida desde 2005 pelos governos brasileiros.
Em 2021, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, defendeu ao longo da COP26 (realizada na Escócia) que o desmatamento na Amazônia apresentava tendência de baixa, usando dados dos últimos meses do Deter (Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real).
Embora tivesse o dado anual do Prodes disponível desde o dia 27 de outubro daquele ano, o governo só revelou o resultado após uma nota do SindCT (sindicato dos servidores públicos federais do setor aeroespacial) ter afirmado que a informação já estava disponível há quase um mês.
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