Crise do clima gera eventos extremos na Ásia

Foto: Reprodução / Greenpeace

Do tufão mais forte a atingir a Coreia do Sul em décadas a inundações que cobriram um terço do Paquistão, passando por uma onda de calor sem precedentes na China, as mudanças climáticas seguem gerando eventos extremos na Ásia, com consequências fatais para a população.
No Paquistão, as enchentes foram causadas pelo derretimento de geleiras nas montanhas do norte e pelo recorde de chuvas de monções -choveu, em julho e agosto, quase 190% mais do que a média de 30 anos, totalizando 391 mm. O novo balanço de mortos, com 18 novas vítimas nas últimas 24 horas, incluindo oito crianças, chegou a 1.343.
Cerca de 33 milhões da população de 220 milhões foram afetados, em um desastre atribuído às mudanças climáticas que deixou centenas de milhares de desabrigados e causou perdas de pelo menos US$ 10 bilhões.
As águas varreram 1,6 milhão de casas, 5.735 km de ligações de transporte e 750 mil cabeças de gado, além de terem inundado mais de 800 mil hectares de terras agrícolas.
Após visitar áreas atingidas no sul do país, o primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, disse nesta quarta-feira (7) que várias regiões parecem "um mar". "Você não acreditaria na escala de destruição lá", disse à imprensa após chegar da província de Sindh, no sul, onde choveu 466% mais do que a média e o maior lago de água doce do país está perigosamente perto de transbordar. "É água por toda parte, até onde você pode ver. É como um mar."
O recuo das águas ameaça trazer um novo desafio: doenças infecciosas transmitidas pela água. "Vamos precisar de trilhões de rúpias para lidar com essa calamidade", disse o premiê.
A Organização Mundial da Saúde já disse que mais de 6,4 milhões de pessoas precisam de apoio humanitário nas áreas inundadas, e a ONU pediu US$ 160 milhões em ajuda para as vítimas.
Mais a leste no continente, a passagem do tufão Hinnamnor, o mais forte a atingir a Coreia do Sul em décadas, provocou dez mortes, de acordo com o balanço atualizado divulgado pelas autoridades. Mais de 4.700 pessoas tiveram que abandonar suas casas e quase 12 mil imóveis foram destruídos.
Na cidade portuária de Pohang, sul do país, as equipes de emergência encontraram sete corpos e dois sobreviventes na garagem de um edifício residencial. As nove pessoas ficaram bloqueadas quando desceram ao estacionamento para retirar os carros durante a forte chuva.
As autoridades confirmaram outra morte nesta quarta-feira em Pohang e uma em Gyeongju, onde uma pessoa foi atingida por um deslizamento de terra.
Na terça-feira, o governo anunciou a morte de uma mulher de 70 anos que foi arrastada pela inundação em Pohang. Duas pessoas ainda estão desaparecidas.
Perto dali, a China ainda sente os efeitos de semanas de uma onda de calor sem precedentes e de uma seca histórica que provavelmente se repetirá e ameaçará as colheitas. O país registrou o mês de agosto mais quente desde o início da contagem de dados, em 1961, com temperatura média de 22,4ºC -1,2 grau a mais que o recorde histórico anterior.
As ondas de calor nesta época do ano não são raras na China, em particular no oeste árido e no sul do país, mas o país enfrenta neste ano um clima extremo, agravado pelo aquecimento global, afirmam os cientistas.
Mais de 260 estações climáticas igualaram ou romperam os recordes de calor para o mês de agosto, segundo a emissora pública CCTV.
Várias cidades importantes registraram os dias mais quentes de sua história e, devido à falta de chuvas, muitos rios secaram, como o Yangtze, o maior do país.
Neste mês as temperaturas caíram, mas o clima deixou a rede de elétrica em uma situação delicada porque milhões de pessoas ligaram o ar condicionado em suas casas. Várias províncias tiveram que racionar energia, o que afeta gravemente o comércio e as empresas, assim como os hábitos de parte da população.
A província de Sichuan, no sudoeste, foi uma das regiões mais afetadas. Para economizar energia, a capital da província, Chengdu, reduziu a iluminação do metrô e desligou os outdoors. Algumas casas também enfrentam racionamento. Muitas pessoas passaram a procurar os shoppings ou as estações de metrôs em busca de temperaturas amenas.
Agosto também foi o terceiro mês mais seco registrado no país, com uma média de chuvas 23,1% inferior ao habitual, segundo o CCTV. A seca é particularmente problemática para os cultivos de arroz e soja, que precisam de muita água.
Uma fonte do serviço meteorológico chinês advertiu que as previsões mostram temperaturas mais elevadas que o habitual na China para o mês de setembro.
Aquecimento global e eventos extremos No ano passado, um relatório publicado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), o braço das Nações Unidas para questões do clima, traduziu em números o impacto do aquecimento global na ocorrência de eventos extremos nos últimos 50 anos.
O documento contabilizou mais de 11 mil eventos como secas, enchentes, deslizamentos de terra, tempestades e incêndios de 1970 a 2019. Mas, enquanto nos anos 1970 foram 711 desses fenômenos, na década de 2000 o número passou a 3.536 e, na seguinte, a 3.165 -um aumento de cinco vezes.
Como consequência deles, há uma soma de mais de 2 milhões de mortes e um prejuízo econômico que ultrapassa US$ 3,4 trilhões (R$ 17,5 trilhões). Espraiando os números absolutos, é como se, a cada dia dos últimos 50 anos, 115 pessoas tenham morrido e mais de US$ 200 milhões de prejuízo fossem gerados por desastres naturais.
O continente asiático foi o mais afetado de todos, com mais de 3.400 desastres contabilizados ao longo das últimas cinco décadas, o que levou a quase 1 milhão de mortes.
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