Dólar avança 0,6% e vai a R$ 5,49, maior patamar desde janeiro

Com a inflação já se aproximando dos dois dígitos na Europa, existe o risco de ela se enraizar acima da meta de 2% do BCE

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Lucas Bombana
São Paulo, SP

O dólar voltou a ganhar força frente ao real na quinta-feira (21) e renovou os maiores níveis desde janeiro deste ano. Em alta firme frente ao real ao longo de toda a sessão, a moeda americana encerrou os negócios em alta de 0,64%, a R$ 5,4970, no maior patamar desde 18 de janeiro deste ano (R$ 5,561).
O processo de aperto das condições monetárias nas economias desenvolvidas, somado às incertezas locais a respeito da dinâmica fiscal e da condução da política monetária a partir de 2023, tem pressionado a moeda americana no mercado local. Nesta quinta, o BCE (Banco Central Europeu) elevou a taxa básica de juros na região em 0,50 ponto percentual, a primeira alta desde 2011.
Desde a mínima do ano alcançada no início de abril, quando encostou em R$ 4,61, o dólar já marca valorização de aproximadamente 19,2% ante o real.
Diretor de câmbio da corretora Correparti, Jefferson Rugik diz que, com o dólar beirando o patamar de R$ 5,50 frente ao real, não se surpreenderia caso o BC (Banco Central) venha a intervir no mercado com a compra de dólares, de modo a tirar parte da pressão altista do câmbio, com o objetivo de evitar um contágio para a inflação.

BOLSAS AMERICANAS SOBEM IMPULSIONADAS POR FORTE ALTA DA TESLA

​Nas Bolsas, após iniciarem a sessão no campo negativo, as ações reverteram a tendência de queda no início da tarde e passaram a subir, com os investidores aproveitando papéis considerados excessivamente descontados.
A alta de juros nos mercados desenvolvidos e o risco de uma recessão das grandes economias globais, no entanto, seguem no radar dos agentes econômicos.
No mercado local, o Ibovespa marcou a quinta alta seguida, encerrando o pregão com valorização de 0,76%, aos 99.033 pontos.
O índice local foi sustentado pela alta da ações da Vale, que após o tombo de 2,1% na véspera, avançaram 1,75% nesta quinta. O setor financeiro, com alta dos grandes bancos -de 1,35% das ações do Bradesco, e de 0,81% do Itaú- também contribuiu para o fechamento positivo da Bolsa​.
Nos Estados Unidos, o S&P 500 terminou o dia em alta de 0,99%, enquanto o Nasdaq avançou 1,36%, e o Dow Jones teve valorização de 0,51%.
O destaque positivo no mercado americano ficou por conta das ações da Tesla, que saltaram 9,8%, após a empresa ter reportado na véspera lucro líquido de US$ 2,26 bilhões no segundo trimestre, ou US$ 1,95 por ação, em comparação com US$ 1,14 bilhão, ou US$ 1,02 por ação, um ano antes.
Já no mercado europeu, a cautela prevaleceu entre as principais praças. O FTSE-100, de Londres, fechou praticamente estável, com leve alta de 0,09%, e o DAX, de Frankfurt, recuou 0,27%. Já o CAC-40, de Paris, marcou valorização de 0,27%.
O BCE elevou nesta quinta a taxa de juros da Europa em 0,50 ponto percentual, de -0,5% para zero, juntando-se a seus pares globais no aumento dos custos de empréstimo. Foi o primeiro aumento de juros pelo banco central da zona do euro em 11 anos.
Encerrando uma experiência de oito anos com taxas de juros negativas, o BCE também aumentou sua principal taxa de refinanciamento para 0,50% e prometeu novos aumentos possivelmente já em sua próxima reunião, em 8 de setembro. Especialistas avaliam que o início do processo de aperto monetário pode trazer algum alívio de curto prazo para o euro.
A alta de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), e o risco de recessão, contudo, devem impedir um fortalecimento mais expressivo da divisa única do continente europeu. Nesta quinta, a moeda fechou em leve queda de 0,09%, a US$ 1,0182.
Com a inflação já se aproximando dos dois dígitos na Europa, existe o risco de ela se enraizar acima da meta de 2% do BCE, e qualquer falta de gás durante o inverno deve elevar os preços ainda mais.
Economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung aponta dados da Eurostat, agência de estatísticas da União Europeia, que indicam que os preços ao consumidor (CPI) para a Zona do Euro subiram para 8,6% em junho no acumulado de 12 meses. Um ano atrás a inflação estava em 1,9%.
“Inflação alta, possibilidade de recessão, a própria demora em elevar as taxas de juros pelo BCE, os efeitos da guerra na Ucrânia e problemas de fornecimento de energia, são todos fatores que aumentaram as incertezas em relação ao bloco”, diz Sung.
“Acreditamos que o aperto monetário pelo BCE deve continuar esse ano com mais duas possíveis altas. Ressaltamos, porém, que os aumentos serão insuficientes para conter a inflação e melhorar a situação econômica da Europa. Para sair efetivamente dessa situação, o continente deveria focar em incentivos para investimentos, criação de empregos e melhora da saúde financeira no setor público e privado”, diz Maria Levorin, gestora da Multiplica Capital.
A especialista diz ainda que, como consequência da decisão do BCE, enxerga um cenário negativo para o crescimento das economias, dado os temores da recessão que levariam os países a entrar em estagflação (combinação de baixo crescimento e inflação alta).

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