Por Francis Juliano

Foto: Reprodução / Agência Rossi
A imagem de um idoso em um lixão em Ipirá, na Bacia do Jacuípe, chamou atenção nos últimos dias. O vídeo – feito recentemente no local e enviado ao Bahia Notícias – mostra o homem dentro de um barraco em uma cama improvisada com plástico. Moscas o envolvem. O lixão fica às margens da BA-052 [Estrada do Feijão] sentido Baixa Grande/Irecê.
Maior e mais populosa da Bacia do Jacuípe, que abriga 15 municípios, Ipirá faz parte das 281 cidades do estado com lixões em atividade, segundo dados da Agersa [Agência Reguladora de Saneamento Básico da Bahia]. No final do ano passado, o IBGE relatou que os lixões persistiam em sete de cada dez cidades do estado.
Procurado pelo Bahia Notícias, o secretário de Agricultura, Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Ipirá, Juracy Oliveira Júnior, disse que há catadores que trabalham durante a noite no local, quando os caminhões de coleta chegam ao lixão, e que algumas pessoas se instalaram ali, para viver da reciclagem.

Foto: Reprodução / Agência Rossi
Para o secretário, a substituição do lixão por um aterro sanitário, solução mais adequada e prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos, esbarra no alto custo para implantar e manter esses espaços. “A solução individual é muito complicada para municípios de pequeno e médio porte. A maioria não tem condições financeiras para isso”, afirmou ao Bahia Notícias.
Nenhuma cidade vizinha, o que inclui Capim Grosso e Pintadas, diz o secretário, conseguiu implementar estrutura própria dentro das normas ambientais. Para superar as limitações financeiras, Ipirá participa do Consórcio Público da Bacia do Jacuípe, que articula uma proposta para construção de aterros regionais.
O consórcio teria elaborado um pré-projeto que reúne 15 municípios, visando captar recursos federais para implantação das unidades. Segundo Juracy Júnior, os estudos iniciais indicam que Ipirá pode ser o município-sede devido ao volume de resíduos gerados e à área já disponível.
O terreno – no mesmo local do lixão e com cerca de 20 tarefas (quase 9 campos de futebol) – pertence ao município e já abrigou um aterro simplificado construído pelo governo estadual em meados dos anos 2000, mas acabou desativado por falta de condições operacionais.
Embora o projeto esteja em andamento, ainda não há confirmação de financiamento por parte do governo federal. “É uma tentativa conjunta do consórcio e dos municípios. O Ministério Público cobra a solução, mas hoje nenhum gestor da região tem condições de resolver o problema sozinho”, completou o secretário.
CATADORES
Questionado sobre iniciativas de organização dos catadores, Juracy Júnior disse que já houve tentativa de criar uma associação, mas o grupo não demonstrou interesse. Muitos chegariam a faturar entre R$ 2,5 mil e R$ 3 mil por mês com a triagem dos materiais, o que, segundo ele, dificulta a adesão a modelos formais de trabalho.
O Brasil tinha estabelecido o final dos lixões em 2014, mas o prazo foi adiado diversas vezes. O último era previsto para agosto do ano passado, para municípios com mais de 50 mil habitantes, caso de Ipirá. No momento, o Congresso Nacional analisa projetos que propõem adiar ainda mais o fim dos lixões, como, por exemplo, em 2030. O problema segue a céu aberto.