Por Leonardo Vieceli | Folhapress

Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
O número de usuários da internet que acessaram serviços digitais de bancos ou outras instituições financeiras teve acréscimo de 22,5 milhões de pessoas em um intervalo de dois anos no Brasil.
É o que indica um módulo da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) divulgado nesta quinta-feira (24) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Conforme o órgão, o número de pessoas de dez anos ou mais que acessaram bancos ou similares por meio da internet saltou de 97,1 milhões em 2022 para 119,6 milhões em 2024.
O acréscimo de 22,5 milhões é maior que a população inteira de Minas Gerais estimada pela Pnad no quarto trimestre do ano passado (21,8 milhões).
O uso da internet para o acesso a bancos ou instituições começou a ser investigado no levantamento em 2022. Na comparação com 2024, nenhuma outra finalidade pesquisada pelo IBGE teve um crescimento de usuários tão intenso.
O avanço ocorreu em meio a uma migração de serviços bancários de agências físicas para plataformas digitais. Conforme o IBGE, a popularização do Pix pode ser uma das razões por trás do quadro.
O sistema de pagamentos instantâneos, aliás, entrou na mira das críticas do governo Donald Trump durante a guerra comercial dos Estados Unidos contra o Brasil.
"O Pix faz muito sentido. É uma hipótese que pode ter contribuído para o acesso a serviços bancários por meio da internet. Foi um aumento muito rápido", disse Gustavo Geaquinto Fontes, analista da pesquisa do IBGE.
Em 2022, o número de pessoas que haviam acessado os serviços digitais de bancos e outras instituições (97,1 milhões) era equivalente a 60,1% do total de usuários da internet no Brasil (161,6 milhões).
Em 2024, a proporção subiu para 71,2% (119,6 milhões do total de 168 milhões). Ou seja, o ganho de participação foi de 11,1 pontos percentuais em dois anos –o maior entre os usos investigados.
COMPRAS E SERVIÇOS PÚBLICOS TAMBÉM AVANÇAM
A pesquisa também sinaliza que mais brasileiros estão aderindo ao comércio virtual.
Segundo o IBGE, o número de pessoas de dez anos ou mais que fizeram compras ou encomendas na internet aumentou de 67,8 milhões em 2022 para 80,8 milhões em 2024.
O acréscimo foi de 12,9 milhões no período. É mais que a população inteira da capital paulista ao final do ano passado (12,6 milhões).
A parcela que fez compras online representava 42% do total de usuários da internet em 2022. A proporção subiu a 48,1% em 2024. O ganho de participação foi de 6,1 pontos percentuais em dois anos.
Outra ação que cresceu foi o acesso digital a serviços públicos. Em 2022, quase 54 milhões de pessoas de dez anos ou mais haviam usado a internet com essa finalidade no Brasil. Em 2024, o número alcançou 65,2 milhões.
O aumento foi de 11,2 milhões. Trata-se de um número similar ao da população inteira estimada no Rio Grande do Sul (11,6 milhões).
A parcela que utilizou serviços públicos de forma digital passou de 33,4% do total de usuários da internet em 2022 para 38,8% no ano passado. Houve alta de 5,4 pontos percentuais.
De acordo com o IBGE, o crescimento pode refletir o avanço de ferramentas como a plataforma Gov.br, que reúne serviços do governo federal.
CHAMADAS DE VÍDEO OU VOZ AINDA PREDOMINAM
A Pnad Contínua aponta que conversar por chamadas de voz ou vídeo seguiu como a principal finalidade de acesso à internet no Brasil. Em 2024, 95% dos usuários de dez anos ou mais se conectaram à rede para isso.
O percentual é superior aos registrados em 2022 (94,4%) e 2023 (94,6%). A variação, contudo, não foi tão grande, até porque a taxa já estava mais próxima de 100%.
O segundo principal uso da internet continuou sendo enviar ou receber mensagens de texto, voz ou imagens por aplicativos diferentes do email. Em 2024, 90,2% dos usuários de dez anos ou mais utilizaram a internet para essa finalidade.
O percentual diminuiu se comparado a 2022 (92%) e 2023 (91,1%). O número absoluto de usuários que fizeram essas ações, porém, aumentou. Isso indica que o crescimento ocorreu em um ritmo menor do que o de outras finalidades, o que explica a perda de participação.
O IBGE considera que uma pessoa de dez anos ou mais é usuária da internet caso tenha se conectado à rede em algum momento nos três meses anteriores à pesquisa. Os resultados divulgados nesta quinta foram investigados no quarto trimestre de 2024.
A Pnad não apresenta dados sobre o uso de bets, as casas de apostas digitais que viraram febre no Brasil.
Pessoas que usam internet para acessar bancos no Brasil
Em milhões, considerando habitantes de dez anos ou mais
2022 - 97,10
2023 - 109,7
2024 - 119,6
Fonte: IBGE
Pessoas que usam internet para acessar bancos no Brasil
Em % do total de habitantes de dez anos ou mais conectados à rede
2022 - 60,1
2023 - 66,7
2024 - 71,2
Fonte: IBGE
Usos da internet no Brasil
% do total de habitantes de dez anos ou mais conectados à rede
Uso - 2022 - 2023 - 2024
Conversar por chamadas de voz ou vídeo - 94,4 - 94,6 - 95
Enviar ou receber mens. de texto, voz ou imagens - 92,0 - 91,1 - 90,2
Assistir a vídeos, séries e filmes - 88,3 - 87,6 - 88,5
Usar redes sociais - 83,6 - 83,5 - 84,2
Ouvir músicas, rádio ou podcast - 82,4 - 82,4 - 83,5
Acessar bancos ou outras instituições financeiras - 60,1 - 66,7 - 71,2
Ler jornais, notícias, livros ou revistas - 72,3 - 69,0 - 68,9
Enviar ou receber emails - 59,4 - 60,5 - 60,8
Comprar bens ou serviços - 42,0 - 44,7 - 48,1
Usar algum serviço público - 33,4 - 35,9 - 38,8
Jogar - 32,4 - 30,9 - 30,2
Vender ou anunciar - 12,0 - 13,2 - 12,3
Fonte:IBGE