_Em entrevista ao GLOBO, o cardeal afirmou que ainda não tem candidato e que só será possível conhecer os favoritos após a primeira votação secreta_
Votação.Dom Orani Tempesta durante missa por morte de Francisco; 'Não há nenhum critério de rodízio', diz sobre chance de novo Papa ser da África ou Ásia — Foto: Leo Martins / Agencia O GloboRumo a seu primeiro conclave, o arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, conta que os cardeais já começaram a debater os desafios do sucessor do Papa Francisco. Em Roma desde o último dia 23, ele celebra a presença de eleitores de novos países, mas diz que a geografia não influirá na escolha do novo Pontífice. Em entrevista ao GLOBO, o cardeal afirmou que ainda não tem candidato e que só será possível conhecer os favoritos após a primeira votação secreta. Depois disso, sustenta que o Espírito Santo é quem guiará a escolha dos 133 eleitores. “Desejo um conclave rápido. O povo precisa ver logo quem é o novo Papa”, defende.
Como se sente às vésperas do conclave?
Nunca estive num conclave antes. Quem me fez cardeal foi o Papa Francisco. Confio que o Senhor vá nos iluminando, vá nos conduzindo para ver o melhor para a Igreja e para o mundo.
Os cardeais estão nas Congregações Gerais, as reuniões preparatórias para o conclave. O que se debate neste momento?
As primeiras reuniões foram de organização. Tratamos dos funerais, da novena de celebrações, da marcação do conclave. Coisas práticas que tinham que ser feitas. Agora, aos poucos, começam a surgir as opiniões. Os cardeais se manifestam sobre o que pensam da Igreja, expressam as grandes preocupações. Como são cardeais do mundo inteiro, cada um traz preocupações diferentes. Isso é bom para a gente conhecer os cardeais de longe, né?
O cardeal Angelo Becciu causou constrangimento ao dizer que participaria do conclave, mesmo tendo sido condenado por fraude e afastado pelo Papa Francisco. Na última terça, ele anunciou que desistiu. A crise foi contornada?
Houve uma discussão interna, mas não foi a grande conversa da Congregação Geral. Depois ele fez uma declaração pública e renunciou. Deu um belo exemplo de obediência à vontade do Papa.
Este será o conclave mais global da História, com cardeais de países que nunca participaram antes da eleição de um Papa. Isso influenciará a escolha?
A universalidade é muito boa e muito importante para a Igreja. A gente encontra cardeais de outras regiões do mundo, vai conversando e conhecendo realidades interessantes. Longe de atrapalhar, enriquece.
Francisco foi o primeiro Papa nascido nas Américas. Agora pode ser a vez de um pontífice da África ou da Ásia?
Não há nenhum critério de rodízio. Vamos ver o que Deus quer, o que o Espírito Santo diz para a gente. Não importa de qual região do mundo, de qual situação [virá o próximo Papa]. Cada um tem que colocar seu voto na consciência de Deus. Depois o Espírito Santo vai vendo, vai convergindo para quem escolheu.
A geografia não influi no voto?
Não é um critério determinante. Veja quantas vezes se repetiram Papas da mesma região do mundo. Temos muitos cardeais bons da África, da Ásia. Vamos ver quem o Espírito Santo escolhe.
A imprensa italiana, que acompanha o dia a dia do Vaticano, cita cardeais italianos no topo da lista de favoritos. Procede?
Cada um fala de quem conhece. Os italianos conhecem os italianos. Os brasileiros conhecem os brasileiros. Isso é natural, faz parte. No início não há candidatos, plataformas, grupos ou chapas. A gente só vai ver as tendências após a primeira votação. Depois é o Espírito Santo que vai conduzindo.
Dos sete cardeais brasileiros que votarão, só dois participaram do último conclave, em 2013. Eles contam o que acontece na Capela Sistina?
Em geral, não. Temos um cardeal emérito, Dom Raymundo Damasceno, que não vai votar [por ter mais de 80 anos]. Ele acompanha a gente, vai para as Congregações Gerais, mas não conta nada. D. João Braz de Aviz mora em outro local, então a gente não tem muito contato.
O arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, chegou a ser cotado no último conclave. Ele também não abre nada sobre o que acontece na Capela Sistina?
Não. Sobre o conclave, não.
Os cardeais brasileiros tendem a votar no mesmo candidato?
Não consigo enxergar dessa forma. Os cardeais têm sua independência, suas próprias ideias.
Responsabilidade: A quatro dias do conclave, cardeais discutem como manter relevância da Igreja
O senhor já decidiu seu voto?
Não. Estou pedindo ao Espírito Santo para que me ilumine, para que eu faça o melhor possível.
Se já tivesse escolhido o candidato, o senhor não me diria. Mas, na sua visão, qual é o perfil do Papa adequado para este momento?
A questão é perguntar ao Espírito Santo o que ele deseja. Até o dia 7, vou pedir essa luz para indicar uma pessoa a quem eu possa dar o primeiro voto. Depois é ver aonde conduz a ação do Espírito Santo. Todos os cardeais têm muitas virtudes e muitos dons. Quem for eleito vai levar adiante o que vinha antes, e novas situações que vão aparecer.
Francisco foi um Papa reformista, que assumiu num momento de crise e enfrentou resistência de cardeais mais conservadores. Esses atritos com parte da cúria romana influirão na eleição do novo pontífice?
Todo Papa enfrenta problemas. Paulo VI enfrentou muitos na época do Concílio Vaticano II. O Papa que for escolhido nos próximos dias também vai enfrentar. Quem for eleito terá que se colocar à disposição para ser um bom pastor, que cuide do rebanho, e para ser uma presença moral importante no mundo de hoje.
Guerras e imigração também serão temas prioritários para o novo Papa?
Seja qual for a situação, a Igreja vai estar presente e contribuir para a solução. O Papa Francisco lutou pela paz, pelos pobres, pelos imigrantes. Não tem como fugir disso. A Igreja precisa ajudar o mundo a ser melhor.
Quanto tempo devemos esperar até a fumaça branca?
Desejo um conclave rápido. O povo precisa ver logo quem é o novo Papa.
O que seria um conclave rápido?
Uns dois dias, né?
Por Bernardo Mello Franco, enviado especial — Roma