O que diz a ciência sobre tratamentos para emagrecer disponíveis no Brasil



Acácio Moraes
Napóles, Itália

Segundo dados da PNS (Pesquisa Nacional em Saúde) de 2020, 60% dos adultos brasileiros vive com sobrepeso. Já a obesidade, atinge 26% desta população. Os tratamentos que promovem emagrecimento passam por diversas etapas, desde mudanças no estilo de vida até procedimentos cirúrgicos.
Todos eles, porém, têm melhores resultados se acompanhados de hábitos saudáveis, como atividade física e alimentação balanceada. Nenhuma das terapias disponíveis, porém, tem efeito definitivo.
“Remédio só faz efeito enquanto toma”, afirma a endocrinologista Maria Edna de Melo, médica do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo). É nesses casos que os diferentes tratamentos disponíveis dão um empurrãozinho.
Para quem quer emagrecer por motivos estéticos, porém, a combinação de alimentação saudável e exercício físico é o único tratamento indicado. Veja o que dizem especialistas e estudos científicos sobre diferentes terapias para obesidade e sobrepeso disponíveis no Brasil.

CIRURGIA BARIÁTRICA

Trata-se de uma intervenção que produz emagrecimento rápido com efeitos duradouros. Estudo mostra que os resultados podem durar até 16 anos. O procedimento consiste na redução do volume do estômago do paciente por diferentes métodos.
Em uma revisão dos principais estudos científicos sobre o tema, especialistas concluíram que é possível perder cerca de 30% da massa corporal pelo método bypass ou sleeve gástrico. O primeiro altera o ponto de ligação do intestino, enquanto o segundo remove a curva do estômago, mas mantém intacto o trato intestinal.
Indicada somente para casos mais graves, são elegíveis pacientes com IMC (índice de massa corporal) maior ou igual a 35 com doença associada, ou para aqueles com o índice superior a 40.
Além dos riscos imediatos do procedimento, a cirurgia cobra um preço alto a médio e longo prazo, segundo Bruno Sander, cirurgião e pesquisador da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Queda de cabelo, déficit de vitaminas e anemia são alguns dos possíveis efeitos colaterais.

SEMAGLUTIDA

Com popularidade crescente nos últimos tempos, a semaglutida é o princípio ativo de medicamentos como Ozempic e Wegovy. Enquanto o primeiro é indicado para diabetes e amplamente usado de forma off-label no tratamento de sobrepeso, o segundo teve aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o obesidade.
Um estudo patrocinado pela farmacêutica responsável, a Novo Nordisk, avaliou a segurança e eficácia da semaglutida em doses de 1 mg (Ozempic) e 2,4 mg (Wegovy). A pesquisa, feita com 1.595 participantes obesos ou com sobrepeso e diabetes tipo 2, mostrou que o uso semanal de 1,0 mg causa redução média de peso corporal de 7%, enquanto a utilização da dose de 2,4% diminui em média 9,6%.
Assim como outros medicamentos, a semaglutida pode provocar reações gastrointestinais, como náusea, vômito, diarreia, desidratação, dores abdominais e prisão de ventre. O uso requer acompanhamento médico.

LIRAGLUTIDA

O medicamento, vendido sob o nome comercial de Saxenda, é capaz de promover a perda de cerca de 7% da massa corporal após 16 meses de tratamento, segundo estudos. Sua aplicação é diária e o uso com acompanhamento médico seguro.
Causa enjoo, vômito, diarreia ou constipação, entre outras reações adversas. Os efeitos colaterais são geralmente passageiros, e em casos raros podem provocar insuficiência renal aguda.
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BALÃO GÁSTRICO

Uma alternativa não cirúrgica para a perda de peso, o balão gástrico consiste em uma esfera de silicone inserida através de endoscopia. Sua função é ocupar parte do estômago e ajudar o paciente a alcançar a sensação de saciedade com menos comida. A alternativa é indicada para pacientes com IMC acima de 27. Estudos mostram que causa emagrecimento de até 11% do peso corporal.
Entretanto, a intervenção tem prazo de validade: o balão deve ser retirado em até 12 meses. Isso significa que, sem mudanças no estilo de vida, o paciente pode voltar a engordar após período.
“Ele é um método temporário, característica que não combina com uma doença crônica como a obesidade”, afirma Melo. Por isso, após a retirada da prótese, o paciente é usualmente encaminhado para tratamentos medicamentos ou, em casos graves, para a bariátrica.

SIBUTRAMINA

Desenvolvida como um antidepressivo, o medicamento não só diminui a vontade de comer, como também mantém regulares os níveis de gasto energético do paciente.
Entre todas as alternativas disponíveis hoje no Brasil, é o medicamento com registro mais antigo, de 1998, e 13 fabricantes possuem autorização para sua produção. Estudos clínicos apontam que o fármaco é capaz de promover diminuição de 10% do peso em tratamentos de 6 meses.

BRPROPIONA E NALTREXONA

A combinação das substâncias, vendida sob o nome comercial de Contrave, proporciona, em média, perda de 10% do peso corporal após um ano de tratamento, segundo estudos clínicos.
A naltrexona é usada também no tratamento para dependência de álcool e opioides, enquanto a bupropiona foi originalmente desenvolvida para depressão e tabagismo.
A combinação, entretanto, pode causar aumento da pressão arterial, doença do fígado, hepatite, episódios de mania, agitação, alucionações problemas de vista e hipoglicemia em portadores de diabetes.

ORLISTATE

Capaz de reduzir em cerca de 30% a absorção de gorduras pelo corpo do paciente, atua diretamente nas enzimas do intestino. Aprovado no Brasil desde o final dos anos 1990, pode ser produzido por 10 laboratórios diferentes.
O remédio permite diminuir a massa corporal em até 10%, segundo estudo. Pode, porém, provocar problemas gastrointestinais como reação adversa. Apesar disso, é um medicamento considerado seguro, e evidências científicas mostram que apenas 6% dos pacientes abandonam o tratamento em decorrência de efeitos colaterais.

DIETA E EXERCÍCIOS

Não dá para escapar. Para perder peso, a pessoa precisa adotar uma dieta equilibrada e se movimentar. Mesmo outras intervenções, sejam cirúrgicas ou medicamentosas, exigem mudanças de hábitos para resultados mais efetivos. Esse é o único método recomendado para aqueles que querem emagrecer por motivos estéticos.
Revisando estudos científicos, pesquisadores concluíram que a associação de dieta saudável e atividade física causa redução de quase 5% da massa corporal entre 1 e 1,5 ano de prática, com resultados que podem durar por até 10 anos.
“Atividade física, combinando aeróbico e exercício resistido, deve ser mais que uma recomendação, deve ser uma prescrição”, afirma Melo.
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