Bolsa sobe e dólar cai com sinais positivos sobre reforma tributária e arcabouço fiscal

Por Renato Carvalho | Folhapress

Foto: Valter Campanato / Agência Brasil

A Bolsa fechou em alta e o dólar em queda na segunda-feira (6). Analistas apontam os sinais positivos dados pelo governo sobre o novo arcabouço fiscal e a reforma tributária. Entre as empresas, destaque para as companhias aéreas, com a Azul subindo quase 40% após divulgar seus resultados de 2022.
O Ibovespa fechou em alta de 0,80%, a 104.700 pontos. O dólar comercial à vista fechou em baixa de 0,63%, a R$ 5,166.
Este maior otimismo com o andamento da pauta econômica do governo Lula apareceu também nos juros. Os contratos com vencimento em janeiro de 2024 recuaram de 13,36% no fechamento da última sexta-feira (3) para 13,27%. Para janeiro de 2025, a taxa recuava de 12,84% para 12,69%. Nos contratos para janeiro de 2027, o recuo era de 13,19% para 13,10%.
A expectativa é de uma semana agitada, com indicadores importantes reservados especialmente para a próxima sexta-feira (10), quando serão divulgados o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de fevereiro no Brasil, e os dados de empregos nos Estados Unidos.
Antes destes anúncios, os investidores ficarão atentos também à divulgação do Livro Bege, documento que faz um resumo do panorama econômico e que serve de base para as decisões do Fed (Federal Reserve, o banco central americano). Haverá ainda dois discursos do presidente do Fed, Jerome Powell.
Nesta segunda-feira, com o boletim Focus do Banco Central mostrando poucas alterações nas expectativas do mercado para os indicadores, as atenções se voltam para as sinalizações sobre reforma tributária e novo arcabouço fiscal.
O ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou nesta segunda que fechou com sua equipe a proposta para o conjunto de regras que substituirá o atual teto de gastos. Segundo ele, o formato será agora apresentado aos demais membros da área econômica do governo e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O novo arcabouço fiscal a ser proposto pelo governo é um dos temas mais aguardados pelo mercado, por interferir de forma direta nas expectativas em torno da trajetória para as contas públicas ao longo dos próximos ano
Para Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest, o posicionamento do ministro foi bem recebido pelo mercado. "Apesar de não ter dado detalhes sobre as novas regras, os acenos que ele dá à Lei de Responsabilidade Fiscal são bem vistos pelos investidores", afirma Quartaroli.
Sobre a reforma tributária, em entrevista à agência Bloomberg, Reginaldo Lopes, coordenador do grupo de trabalho que discute o tema na Câmara, disse que o vice-presidente Geraldo Alckmin atua ativamente para viabilizar as medidas, especialmente junto ao empresariado.
Alckmin defendeu nesta segunda-feira a queda dos juros no país e afirmou que o governo irá tomar as medidas necessárias para que isso aconteça.
Em um evento organizado pela Federação Nacional dos Engenheiros, Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, afirmou que, quando o custo de capital é alto demais, como é o caso do Brasil, emperra investimentos no país.
"É importante reduzir a taxa de juros. Por que o juro é tal alto? É cunha fiscal? Então vou tirar impostos. É falta de competitividade? Vamos aumentar a disputa entre bancos. É insegurança fiscal? Vamos dar segurança fiscal", disse o vice-presidente.
Outra notícia apontada como positiva por analistas é a avaliação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre incluir na reforma tributária uma revisão das regras de tributação sobre a folha de pagamento, hoje um dos principais alvos de reclamação das empresas por elevar o custo de contratação de empregados.
"Em suma, o bom do debate é que ele se endereça para onde de fato teremos algum progresso, mas está longe de encontrar um consenso. Para que ocorra de maneira célere é fundamental que o executivo, de maneira conjunta, ecoe uma só intenção explícita de reforma", afirma a equipe de análise da Ativa Investimentos.
Entre as ações os destaques do dia ficam com as companhias aéreas. A ação preferencial da Azul subia fechou em alta de quase 38%, e a preferencial da Gol subiu quase 24%. A CVC também se beneficiou do movimento, com sua ação ordinária em alta de quase 20%.
Na manhã desta segunda, a Azul divulgou seus números do quarto trimestre de 2022, com crescimento de quase 7% no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortizações e depreciações), e projeções otimistas para 2023.
A empresa espera ter receita recorde de R$ 20 bilhões em 2023, e Ebitda também em níveis recordes, de R$ 5 bilhões. Neste domingo, a Azul anunciou também uma renegociação no pagamento de seus arrendamentos de aeronaves, o que deve dar um fôlego para o caixa da companhia.
Os analistas da XP Investimentos apontam esta redução na pressão sobre o caixa da Azul no curto prazo. "No entanto, observamos uma potencial diluição de capital, já que 40% da dívida será convertida em títulos com vencimento em 2030 e 60% em ações com um valor relativo maior que o atual", diz a casa em relatório.
As ações dos bancos também fecharam em alta, já que uma retomada de empresas que ficaram em situação delicada no pós-pandemia pode tirar uma parte da pressão da inadimplência. Destaque para ações ordinárias e preferenciais do Bradesco, que subiram mais de 3%.
O noticiário vindo da China, que ajudou Vale e siderúrgicas na última semana, hoje tem efeito contrário sobre os papéis. Isso porque o governo do país divulgou projeção de crescimento de 5% para 2023, mais modesta que os 5,5% esperados pelo mercado. As ações de Vale, Gerdau e CSN recuaram mais de 3%, liderando a lista de maiores quedas do Ibovespa no dia.
Leonardo Neves, especialista em renda variável da Blue3 Investimentos, afirma que para os padrões chineses, a meta de crescimento em 5% é "meio modesta", e não agradou os investidores, que resolveram realizar lucros com as altas da semana passada.
Em Nova York, os principais índices de ações fecharam próximos da estabilidade. O Dow Jones subiu 0,12%. O S&P 500 avançou 0,07%, e o Nasdaq fechou em baixa de 0,11%. O mercado nos
Estados Unidos oscila de acordo com a percepção dos investidores sobre a relação entre atividade econômica e alta dos juros.
Esta semana, o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) passará por duas audiências no Congresso, e a expectativa é de que ele mantenha o discurso mais duro de combate à inflação.
Na próxima sexta serão divulgados os dados de empregos nos Estados Unidos, no relatório conhecido como Payroll. O indicador pode ser decisivo na decisão da próxima reunião do Fed sobre juros, que ocorre ainda em março.
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