Após tombo em 2020, extrema pobreza voltou a subir no Brasil em 2021

Depois de alcançar em 2020 o menor patamar em pelo menos 40 anos, o percentual de brasileiros vivendo na extrema pobreza voltou a crescer em 2021 e retornou ao patamar pré-pandemia.
No ano em que houve a decretação da crise sanitária e a implementação do Auxílio Emergencial de R$ 600, a parcela de brasileiros vivendo com menos de US$ 2,15 por dia caiu para 1,95% da população, segundo dados do Banco Mundial. Esse é o menor percentual já registrado na série histórica da instituição, iniciada em 1981.
Um levantamento do CLP (Centro de Liderança Pública) mostra que a melhora, no entanto, foi revertida no ano seguinte, com o fim do pagamento do benefício. De acordo com o pesquisador Daniel Duque, autor do trabalho, as transferências sociais em 2021 não foram suficientes para compensar a queda nos rendimentos do trabalho dos mais vulneráveis.
Com base nos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ele calcula que a extrema pobreza estava em 7,9% no final de 2019, caiu para 4,2% no terceiro trimestre de 2020 e subiu para 8,6% no final de 2021. O dado mais recente representa 18,2 milhões de pessoas.
“A pobreza no Brasil, apesar de menor em 2020, devido ao Auxílio Emergencial, registrou reversão no ano seguinte, com níveis acima do período anterior à pandemia”, afirma o pesquisador.
A diferença entre os números do pesquisador e os do Banco Mundial para um mesmo período é explicada pela inclusão, feita pela instituição multilateral, de uma estimativa de aluguel implícito para quem mora em imóvel próprio, o que é uma renda não monetária. Com isso, os números do banco mostram uma situação melhor, embora a tendência seja a mesma.
Nos dois casos, é considerado o mesmo valor para traçar a linha da extrema pobreza, de US$ 2,15 por dia (cerca de R$ 11 ao câmbio atual). Desde setembro, o Banco Mundial passou a adotar esse limite para a faixa de extrema pobreza, em substituição aos US$ 1,90 usados anteriormente.
Em números totais, os dados do Banco Mundial mostram redução de 11,37 milhões em 2019 para 4,14 milhões de pessoas em 2020 abaixo dessa linha. Ou seja: 7,23 milhões de pessoas saíram dessa situação no primeiro ano da pandemia.
O Auxílio Emergencial chegou a contemplar 68 milhões de brasileiros, com a distribuição de R$ 355 bilhões, de acordo com o Ministério da Cidadania.
A suspensão dos pagamentos em janeiro de 2021 já impactou a renda dos brasileiros, com o indicador de extrema pobreza subindo a 11,4% no primeiro trimestre daquele ano. O benefício voltou a ser pago até outubro, mês em que contemplou 21 milhões de pessoas, com valor médio de R$ 250.
Em novembro do ano passado, foi implantado o Auxílio Brasil de R$ 400, em substituição ao Bolsa Família. Em outubro deste ano, esse programa foi elevado a R$ 600, recebidos por 21 milhões de pessoas.
Ainda de acordo com o trabalho do CLP, 28% dos brasileiros estão abaixo da linha de pobreza de US$ 5,50 (cerca de R$ 30 por dia) e 14,5% abaixo da linha intermediária de US$ 3,20 (cerca de R$ 16 por dia).
Combate à pobreza em 2023 Duque afirma que, apesar da melhora recente no mercado de trabalho, o cenário para 2023 é de preocupação. Ele cita, por exemplo, a desaceleração na geração de emprego e o formato do Auxílio Brasil, que é menos eficiente e eficaz do que o antigo Bolsa Família.
Uma das diferenças é o pagamento a todos os beneficiários do mesmo valor, independentemente do tamanho da família.
Para ele, um melhor desenho inclui um valor menor básico com complementação para superação da extrema pobreza e aplicado ao total de crianças no domicílio. Ele também defende um mecanismo de reajuste regular desses valores, preferencialmente ligado à variação no preço dos alimentos.
Atualmente, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta encontrar uma solução para garantir a manutenção do auxílio em R$ 600.

Por Folhapress
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